Governo quer retomar debate sobre hidrelétricas

Fonte: Brasil Energia Online

Discussão tem que ser pragmática, sem "mimimi", de modo a expor prós e contras da fonte, segundo Luiz Augusto Barroso, da EPE.

O governo pretende restabelecer o papel prioritário das hidrelétricas na matriz energética, a partir de um amplo debate sobre os benefícios da fonte para a sociedade, avançando num ponto considerado delicado até muito recentemente, diante das reações de setores contrários à fonte, assim como acontceu com as privatizações, tema que era tabu no setor elétrico, e no próprio governo.

A ideia, segundo o presidente da EPE, Luiz Augusto Barroso, é que o debate seja feito de forma pragmática, descartando empreendimentos que sejam tido como inviáveis e apostando as fichas nos que são possíveis de serem feitos, além de apresentar prós e contras da fonte para a sociedade. O país tem dois terços da geração brasileira baseada em hidrelétricas, mas vem acompanhando uma expansão acelerada de fontes renováveis com características de operação intermitente, como eólicas e solares fotovoltaicas.

"Vamos colocar as hidrelétricas no planejamento e queremos uma discussão pragmática, sem ''mimimi''", disse Barroso, em evento realizado pela FGV Energia nesta quinta-feira (1/12), utilizando-se de uma expressão típica da internet. 

Segundo ele, essa discussão tem que ser feita em dois blocos distintos: as usinas amazônicas e as que estão no restante do país. No primeiro caso, explicou, trata-se de empreendimentos mais complexos, extamente por causa das dificuldades socioambientais inerentes a este tipo de empreendimentos.

Na região estão localizados aproveitamentos que podem se tornar usinas com grandes potências instaladas, como São Luiz do Tapajós (8.040 MW), que teve o processo de licenciamento ambiental arquivado em meados deste ano, Jatobá, de 2,3 mil MW e Marabá (2,1 mil MW), entre outros.

Na visão do presidente da EPE, o ideal seria debater a reintrodução de hidrelétricas de médio porte, com capacidade instalada entre 200 MW e 500 MW, por exemplo, e que estejam localizadas em outras regiões do país, por serem menos complexas – e preferencialmente nos casos onde podem ser adotados reservatórios de regularização.

"Essa discussão tem que ser feita pela sociedade", disse Barroso. No caso específico de Tapajós, o executivo salientou que a usina deve ser rediscutida amplamente pela sociedade, especialmente com as comunidades afetadas por uma eventual implantação da usina, e reavaliada a partir do processo arquivado.

Ao mesmo tempo, Barroso disse que em caso de se concluir pela inviabilidade, as alternativas tamém devem ser conhecidas por todos de forma ampla e transparente. Barroso anunciou que a próxima edição do Plano Decenal – que tem horizonte de dez anos – deve apresentar análises de cenários para a expansão da oferta, ainda que mantenha o caráter indicativo que sempre vinha sendo adotado e, todas as edições.

Com isso, o plano traria as opções para atender à demanda atrelada a empreeendimentos ali previstos mas que eventualmente teriam saído do papel no horizonte. Tendo como exemplo o próprio caso de São Luiz do Tapajós, a eventual entrada da hidrelétrica no próximo plano decenal seria acompanhada de opções para o caso da usina não sair do papel.

"PDE não é futuro, é referência", afirmou, explicando que o plano decenal não é um conjunto de metas que têm que ser cumpridas, mas um sinal para a expansão.