FGV Energia promove debate entre especialistas no lançamento do Caderno de Energia Nuclear
A FGV Energia realizou, no dia 27 de abril, o lançamento do Caderno de Energia Nuclear. O evento reuniu acadêmicos e especialistas no assunto para debater a importância dessa fonte de energia para a matriz energética brasileira.
A abertura do encontro foi realizada pelo vice-presidente da Fundação Getulio Vargas, Sergio Quintella. Ele destacou a importância das pesquisas desenvolvidas pela FGV Energia para o país. Esta é a sexta da série Cadernos FGV Energia e é fruto do trabalho iniciado há um ano e três meses pelos pesquisadores Felipe Gonçalves e Renata Hamilton de Ruiz.
A primeira mesa do evento apresentou as tecnologias nucleares atualmente utilizadas no Brasil. O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil (INB), João Carlos Derzi Tupinambá, defendeu a revisão da legislação nuclear do Brasil e destacou a importância do lançamento da pesquisa, pois ela será útil na construção de modelagens de associação entre o INB e grandes players do mercado para o aumento da produção mineral. Já o almirante Luciano Pagano Júnior, frisou que o sucesso de um empreendimento nuclear está diretamente ligado ao tempo de construção da usina. Ele também destacou que a questão constitucional, assim como o excesso de portarias, é motivo de incerteza para os negócios na área.
Já a segunda parte do evento teve como propósito contextualizar o atual momento da energia nuclear no Brasil. O coordenador editorial do Caderno, Felipe Gonçalves, lembrou que o tema é sensível pelos riscos ambientais envolvidos, mas necessário diante do plano energético nacional. Segundo ele, a proposta dessa publicação é apresentar os desafios do Brasil para que o país esteja apto a inserir energia nuclear em sua matriz.
“O Brasil tem grande reserva de urânio, domina todo o ciclo de produção do combustível nuclear e é signatário de todos os acordos internacionais na área, o que garante utilização desses recursos exclusivamente para fins pacíficos, além de ser uma fonte de energia que apresenta custos competitivos”, destacou.
Em sua apresentação, o pesquisador destacou que, no mundo, a maior parte da energia gerada ainda é originária do carvão, mas que isso deve ser modificado até o fim do século por conta dos acordos de redução de emissão de carbono. Ele ainda lembrou dos desastres de Three Mile Island (EUA, 1979), Chernobyl (União Soviética, 1986) e Fukushima (Japão, 2011) e falou sobre a evolução das tecnologias que garantem maior segurança a esses empreendimentos.
Em seguida, o professor Aquilino Senra, da Coppe/UFRJ, deu ênfase ao fato de que o desenvolvimento da energia nuclear no Brasil carece de articulação entre os órgãos envolvidos – Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação, da Defesa, Minas e Energia, Meio Ambiente, por exemplo. Ele ainda apontou que a aceitação pública, o histórico de descontinuidade, os custos de geração, os rejeitos radioativos, a escassez de recursos humanos e a crise de confiança são entraves para o desenvolvimento dessa indústria.
Já o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares (ABDAN) destacou a necessidade de criação de um plano nacional de energia nuclear no Brasil. Paulo Heilbron, da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) defendeu um estudo cuidadoso sobre a quebra do monopólio na exploração de urânio. Ricardo Gorine, da Empresa de Pesquisa Energética, alertou para a importância da energia nuclear para se ter um sistema elétrico robusto.
O secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Eduardo Barata, disse que o Brasil é afortunado por possuir praticamente todas as fontes de energia.
“Angra 1 e 2 são um estímulo para que se continue a investir nessa fonte de energia, devido a eficiência e custo baixo. Hoje, o Brasil tem duas usinas que funcionam muito bem e uma terceira em construção. O Plano Nacional de Energia (PNE) 2030 prevê a construção de quatro usinas e o PNE 2050, já em elaboração, certamente vai prever a construção de mais usinas.
O objetivo dessa publicação da FGV Energia é o de estimular a reflexão sobre uma estrutura de planejamento energético, na qual a definição do portfólio de fontes considere o potencial de desenvolvimento econômico e a geração de renda dos projetos de térmicas, sem que seja necessário abrir mão do controle de emissões e da sustentabilidade ambiental